Mundo dá volta, camará.

Crónica – Wilson Mendes

No ano de 1990 e alguma coisa, convidado por um grande colega , comecei a trabalhar no Rock in Rio Café, badalada casa de show que ficava no aeroclube em Salvador-Ba.
Trabalhamos  implantando a rede, e na sequência, um bugadíssimo sistema de controle em conjunto com um analista, ambos, made in Rio de janeeeeeeeeeeeiro. O sistema tinha mais problemas do que o windows 98,ME e XP juntos, mas, isso é uma outra história.

Trabalhava 3 noites por semana: Segundas; geralmente a casa estava fechada para o público ou alugada para eventos privados. As terças e quartas; Diversos shows e, na sequência, Dj Tubarão fazia a pista pegar fogo. Eu, como quase sempre, estava no cafofo tecnológico dividindo um espaço de 8 metros com dois servidores.
As outras 4 noites da semana ficava por conta do sempre festivo Ygor, o gordo rsrs , responsável pela minha contratação.

Lá, nós da informática, tínhamos como uma das cláusulas contratuais que a empresa contratante seria a responsável pelo pagamento do nosso transporte de Ida e de volta; Táxi, charretes, disco voadores, cavalos… Não importava. Contrato lastreado na gasolina rsrs, ou, o mesmo valor em combustível, foi sempre assim desde o começo.

Um belo dia, um dos gerentes possuído pelos espíritos do Taylor e de Fayol, resolve por conta própria, bem na minha noite de trabalho, proibir o transporte.

BUMMM!

Um Detalhe: Era noite de um grande protejo de música brasileira e, quem subiria ao palco?   – Vânia Abreu. Casa lotadíssima, lista de espera, e muitos etceteras .

Logo na minha chegada, de táxi, recebi o comunicado. Liguei logo para o responsável pela minha indicação que mesmo argumentando via Graham Bell com o então gerente, não houve acordo.
Estava determinado o fim do táxi, e consequentemente, a quebra do contrato.

Corta para 18

Enquanto o nobre leitor lia o parágrafo acima, eu, já havia pedido o transporte .
Agora, já em carreira solo, aguardando a minha carruagem de volta, sou surpreendido por um dos sub-gerentes gritando:, – “ Wilsonnnn,Wilsonnnn oh! Wilsonnnn!!!, pode voltar , volte, acenando desesperadamente, volte,  já acertou tudo, o homem, referindo-se aos donos da franquia, os irmãos Mendonça, ligou para o gerente e deu a maior bronca.

Volto 8 passos e faço o meu papel.

 

Mundo dá volta, camará.

Um dia desses, depois de mais de 15 anos, o destino e o acaso resolveram se alinhar, e, fizeram o meu cósmico salutar encontro com o ex-gerente através de uma viagem de 21 minutos, direto do túnel do tempo. Com um diálogo carregado de sensações. Narrando os fatos, ele me fez lembrar essa história enquanto completava a corrida do aplicativo uber, no qual é motorista.

La vai….

Uma noite de verão daquelas, que só os frequentadores do Rock in Rio café entenderão,
show do salsa Litro e funk machine. Casa lotadaaaaaa. E como sempre fazia, ao subir até a gerência que ficava no mezanino para pegar o voucher assinado pelo gerente que era trocado por reais nos caixas internos da casa, encontro uma cena inusitada; O gerente, anti-táxi, deitado no sofá com um tom de pele meio esverdeado, conversando com mais 2 sub-gerentes ao derredor. Dizia ele que estava passando mal, que havia comido algo, que estava com diarreias, cólicas e muito blá bla blá.

E, mesmo eu não tendo o pífio interesse pelo assunto, tive que escutar a sessão do descarrego como forma de pedágio antes da bendita autorização, outrora boicotado pelo mesmo.

Agora, já devidamente exorcizado pelos donos, em uma espécie de versão humilde provocada pela suposta dor, e com uma voz de fazer inveja a João Gilberto, faz o seguinte pedido:
”-Wilson, como no seu trajeto, você passa próximo a minha casa, poderia me dá uma carona? Estou passando muito mal e com receio de não aguentar ir de ónibus.


“Vou de táxi, cê sabe
Tava morrendo de saudade
Mas nem lembro
Do teu nome”

FIM.

wicasame

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